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NOTA IMPORTANTE - Algumas das fotografias, pela sua "violência", podem ferir a sensibilidade de algumas pessoas.
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No ano de 1993, Kevin Carter fotografou uma
cena que dispensa comentários.
Em Ayod, no Sudão, em plena epidemia de
fome, uma criança subnutrida arrasta-se enquanto um abutre-de-capuz aguarda
pacientemente a sua morte.
Carter disparou a sua máquina, afastou o
abutre e partiu de imediato para Nova Iorque.
O New York Times publicou a fotografia, que
em 1994 ganhou o prestigiado prémio Pulitzer.
A morte de mão dada com a fome, o mundo tal
qual ele é, foi o que Kevin viu.
Meses depois suicidou-se. Em 27 de Julho de
1994, em Joanesburgo, num local onde tinha por hábito brincar quando criança
pôs termo à vida. Tinha 33 anos de idade.
Numa nota, que se resume, deixou-nos as
seguintes palavras:
“Eu sinto muito. A dor da vida ultrapassa a
alegria ao ponto em que a alegria não existe (…), deprimido (…). Estou
ensombrado pelas vívidas memórias de mortes e cadáveres e raiva e dor (…), de
crianças famintas ou feridas, de loucos com dedo no gatilho, muitas vezes
polícias, carrascos assassinos (…).”
FOME
NO MUNDO
Todos eles são os culpados da fome no
mundo. Opróbrio e vergonha de uma falsa civilização. Não tu!
Sinto muito Kevin. Não deverias ser tu a
suicidar-te, mas os causadores do Mal neste
mundo canibalesco. São esses
criminosos de colarinho branco que se deviam ter suicidado ou suicidar neste
preciso momento.
Ditadores, papas, falsos santos,
governantes imundos, entre tantos.
O papa Alexandre VI, de seu nome Rodrigo
Bórgia. O papa das grandes orgias. Com frequência juntava dezenas de
prostitutas numa sala e encarregava alguns clérigos que observassem as cópulas,
contando os orgasmos, numa espécie de concurso sexual. Estuprava a sua filha
Lucrécia e matava os seus opositores. Muitos poderiam ser os maus exemplos na história dos papas e
seus assessores…
Veja-se a “Taxa Camarae” – A idade da
corrupção e do pecado na igreja.
E tantos outros que o antecederam e que o
seguiram. Papas, Cardeais, Bispos, todos imersos no pecado e possuídos pelo Senhor deste Mundo.
Referência
ao Pe. Gabriel Amorth
Madre Teresa de Calcutá
Tende cuidado com os “falsos profetas” e a
quem dais as vossas “esmolas”…
É com dor profunda que referenciamos este
vídeo, mas infelizmente, investigadores imparciais têm vindo a demonstrar uma
“faceta” de madre Teresa que durante muito tempo nos recusámos a aceitar.
Governantes, políticos, sacerdotes
criminosos, autoridades iníquas, ricos e poderosos.
E seus cúmplices, ou seja todos os que
participaram e participam de modo directo ou indirecto nas calamidades a que
assististe, dando-lhes o seu assentimento por acção ou por omissão.
Tantas ignomínias perpetradas por um poder
sujo, encabeçado por falsários, ladrões, corruptos, todos escandalosamente
imundos.
Criminosos da humanidade, em regra, impunes
aos malefícios que causaram e causam, alguns calorosamente recebidos e
cumprimentados por representantes de Estados que se dizem desenvolvidos, como
da comunidade europeia.
Islam Karimov é apenas um dos muitos
exemplos. Chefe do Estado do Uzbequistão tornou-se célebre por ter colocado em
água a ferver alguns dos seus opositores e por ter ordenado o massacre de
Andijan, onde cerca de 1500 manifestantes foram mortos pelas suas tropas de
elite. Os sectores mais importantes da economia eram controlados por si, pela
sua família e pelos seus bajuladores – v.g.,
algodão e gás natural.
Também o Presidente de Angola foi recebido
com pompa e circunstância pelos presidentes de Portugal e do Brasil. E muitos mais,
perversos assassinos dos seus próprios povos são acolhidos em Estados democráticos que apregoam os direitos do
homem ao vento.
Uma patologia epidémica, altamente
infecciosa dos países subdesenvolvidos, enfermidade de outros, que se
autoproclamam desenvolvidos.
***
"Pisces maiores constat
glutire minores, sic homo maioris saepe fit esca minor".
Neste artigo tratamos do Mal no mundo nas suas múltiplas facetas
e da sua inevitabilidade, como consequência da existência de religiões e
líderes religiosos nauseabundos, governos e políticos falsos e repulsivos como
sepulcros abertos, ricos e poderosos sem escrúpulos vergados aos deuses do
prestígio e do oiro.
Injustiça, guerra, fome, subnutrição,
carência dos mais básicos cuidados de saúde, violação dos mais elementares
direitos humanos, escravatura, exploração de crianças e mulheres, violência e
mais violência, essência dos senhores que se apropriaram deste mundo.
A
TRISTE REALIDADE
Não nos venham as Igrejas afirmar que a
permissão divina do mal físico e do mal moral é um mistério incompreensível que
Deus esclarece por seu filho Jesus ou que será entendido plenamente no momento
da nossa morte, como se por artes mágicas nos seja dada a certeza de que o mal
não seria permitido se dele não nascesse o bem.
Não nos venham os papas e outros líderes de
outras religiões, papagueando textos que dizem sagrados – mas que de sagrados nada têm – com palavras mansas prometer o
inconcebível e apelar a uma paz que sabem inatingível, limitando-se a lançar
sílabas ao vento, e atulhando as caixas-fortes das suas libertinas
instituições.
Não nos venham os políticos nas suas
línguas viperinas prometer justiça, igualdade e pão, quando se ocupam
tão-somente a engordar os seus fétidos ventres, querendo evitar qualquer
revolta, mais do que justificada, levantamento de povos abúlicos transformados
em dóceis ovelhas.
Não nos venham também, ricos e poderosos,
aludir à sua imprescindibilidade para a sobrevivência do mundo, enquanto se
refastelam com o pão furtado aos pobres.
***
As
religiões existem porque há morte.
A
filosofia existe porque o homem é um ser-para-a-sua-morte.
As
Teodiceias nascem porque nada parece justificar o mal num mundo criado por um
Ser de bondade e Amor.
***
Jesus terá dito : “A minha casa será
chamada casa de oração para todos os povos. Mas vós fizestes dela um covil de
ladrões” - (Mc 11, 17 – veja-se Is 56, 7
e Jr 7, 11)
Indo ainda mais longe, o templo de Deus é o
mundo, e este planeta de predadores onde a confiança está ausente. Dele, os
homens fizeram um covil de embusteiros, trapaceiros, ladrões, corruptos, e
líderes religiosos e políticos sanguinários ao serviço dos seus próprios
interesses e dos bajuladores que os cercam, condenando à mais degradante
pobreza a maioria dos seus irmãos.
Apregoa-se a alegria de viver, a confiança
no homem e no futuro, uma ética humanista, o amor, a solidariedade, um paraíso
para os pobres, mansos e civilmente obedientes. Como se os males do mundo sejam
consequência única da desobediência civil e religiosa.
Mas, como anota H. Zinn, “a desobediência
civil não é o nosso problema.
O nosso problema é a obediência civil. O
nosso problema é que pessoas por todo o mundo têm obedecido às ordens de
líderes e milhões têm morrido por causa dessa obediência. O nosso problema é
que as pessoas são obedientes no mundo face à pobreza, fome, estupidez, guerra
e crueldade.
O nosso problema é que os seres humanos são
obedientes enquanto as cadeias se enchem de pequenos ladrões e os grandes
ladrões governam os países.
As
prisões dos ladrões que governam o mundo estão vazias…
Aos oprimidos, aos injustiçados, aos
famintos, a todos os espoliados e desvalidos, dir-vos-ei com Jesus: Se não tendes uma espada, ide, vendei tudo o
que tendes e comprai uma…
Refiro-me aqui ao Jesus histórico, tal como
o entendo. Um revolucionário, discípulo de João Baptista, que percorreu a
Galileia e subiu a Jerusalém reunindo um exército
de pobres tendo como objectivo principal estabelecer o Reino de Deus nesta terra. A personificação da paz, mas também da
guerra aos poderosos, aos ímpios, aos vendilhões e ladrões dos humildes e
desamparados. O Homem capaz de afrontar as perversas autoridades judaicas e o
próprio império romano, sabendo de antemão como acabaria a sua vida. Condenado
à morte por sedição num julgamento sumário realizado por Pôncio Pilatos.
Se se quiser, um Enviado, filho humano de um Deus dos pobres.
Expulsai deste Templo pelo chicote e pela espada, os vendilhões, os usurários, os
poderosos, os políticos, ricos ignóbeis, juízes iníquos, autoridades sanguissedentas,
ladrões dos pobres e oprimidos. Derrubai os seus tronos e recolhei suas moedas
que distribuireis equitativamente pelos pobres.
***
O homem é um animal religioso. A vida à
superfície da Terra é extremamente dura e constantemente envolta num manto de
dor. Condenado ao sofrimento e à morte física, busca no além, numa entidade que
o transcende na sua perfeição absoluta, o consolo da perpetuidade. A angústia
da existência é minimizada pelo prémio concedido por um Pai de compaixão que o receberá no seu seio amoroso por toda a
eternidade.
Não podemos aqui debruçar-nos sobre todas
as religiões – não é esse o intuito
destes escritos -, mas nas que nos estão mais próximas, Deus omnipotente,
infinitamente perfeito e bem-aventurado, é o criador do mundo e das criaturas
racionais e irracionais, bem como dos anjos.
Nelas, o homem deseja Deus. Desejo que está
impresso no seu espírito, que é por Ele provocado para que o conheça e ame por
intermédio de uma fé que é tida como virtude sobrenatural.
Estando limitados pelo tempo-espaço não o
podemos compreender, dizem-nos, quando muito poderemos conhecê-lo, quer pela
luz da razão humana iluminada, purificada e elevada pela fé quer a partir do
mundo e das coisas por si criadas (Concílio Vaticano II e Rom 1, 20). Mas para
o conhecer é fundamental que manifestemos tal intenção enquanto firme desejo no
assentimento das verdades reveladas e pela fé, pressuposto indispensável para
Lhe agradar. Parece-nos que para os católicos Deus tem uma enorme necessidade
de ser comprazido – veremos infra de que
modo.
Aquela que é considerada a prova por
excelência da existência de Deus é a da causa primeira, não obstante não se
possa provar cientificamente que Ele tenha ou não existência. O mundo exige uma
causa de si mesmo. E a essa causa chamamos Deus, como ser último, porquanto não
é compreensível que todo o ser que começa a existir não tenha uma causa.
Mas terá mesmo de ter uma causa? E
poderemos reconhecer por intermédio da razão, ainda que com algumas limitações
da existência da alma espiritual e da sua imortalidade, alma que como princípio
vital comunica ao corpo vida, sensitividade e pensamento?
E as almas são preexistentes ou não
preexistentes, criadas ou não criadas por Deus?
E se a imortalidade for uma quimera, a
ilusão de mentes conturbadas?
Já discutimos estas questões noutro texto.
Ver »
No cristianismo, a fé é uma adesão
voluntária do homem à verdade revelada nas Sagradas Escrituras e pela Tradição,
sendo absolutamente necessária para a salvação : “Quem acreditar e for
baptizado será salvo, mas quem não acreditar será condenado” (Mc 16, 16).
Veremos uma excepção interpretativa a este normativo religioso-evangélico de
que fora da igreja não há salvação em momento posterior (LG) – excepcionam-se os que sem culpa, desconhecem
Cristo e a sua Igreja. Esta excepção indicia desde já um fenómeno com que
vos irais deparar no estudo da história das religiões evoluídas : o princípio
da oportunidade.
Há na história um estranho Deus a revelar
princípios normativos contraditórios, eivados de desumanidade e infâmia aos
povos, chegando mesmo a eleger um deles como o seu povo. Citemos como exemplo o
Antigo Testamento e o Corão, com as suas Leis
e uma Sharia contrárias à compaixão e
a toda a ética que se deseja humanista, como se Deus reinasse às atrocidades e impiedades.
***
O mundo é religioso. Estatisticamente
religioso. De uma população de 7 parece que 6 mil milhões professam uma
religião.
Em 2010 teríamos (números aproximados em
milhões):
Cristãos – 2.200
Igreja
Romana – 1.100
Igrejas
Pentecostais – 426
Igreja
Protestante – 417
Igreja
Ortodoxa – 275
Igreja
Anglicana – 86
Outras
– 34
Islamismo – 1.500
Judaísmo - 15
Hinduísmo – 950
Religiões Populares Chinesas – 434
Budismo – 450
Outras, tais como Espiritismo,
Confucionismo, Jainismo, Siquismo, Taoísmo, Xamanismo, Xintoísmo – 400
Não nos será possível num trabalho que
pretendemos sintético, enumerar toda a argumentação que contraria frontalmente
a utilidade das religiões, sendo certo que apenas uma minoria poderá estar
afastada de graves dissensões internas e externas, com perseguições,
fundamentalismos e conflitos armados – guerras
e algumas acções que podemos qualificar de terroristas.
As religiões são violência, vício,
ostentação e pecado. A maioria dos
adeptos são “ateus práticos”: vivem no pleno esquecimento de Deus,
comportando-se como se Ele não tenha existência. São os religiosos-submarinos: assomam à superfície quando o perigo de
afundamento é praticamente inevitável. Afirmam-se religiosos, mas os seus
corações estão empedernidos pela ganância, violência, egocentrismo e falsa
compaixão.
As religiões são um dos maiores produtores da guerra, da violência, do
pecado, de falsos santos, sacerdotes recalcados, viciosos e calaceiros, que
nada produzem para além de palavras ocas, bastardos
e violentados.
Um
abade beneditino, sujeito aos votos de pobreza, obediência e castidade, terá
confessado: “O meu voto de pobreza presenteou-me com cem mil coroas por ano; o
meu voto de obediência deu-me o estatuto de príncipe soberano.”
Ter-se-á
esquecido de realçar as consequências do voto de castidade?
Percorrei
as igrejas e paróquias destas nossas terras e vede com os vossos próprios olhos,
ouvi com os vossos ouvidos e examinai com os vossos corações com que famigerada espécie de sacerdotes somos
presenteados.
As palavras de
Ghandi são extensíveis a todas elas, não se resumindo ao Cristianismo:
"Amo o
cristianismo, mas odeio os cristãos, pois não vivem segundo os ensinamentos de
Cristo."
Lembremos o Judaísmo. Os judeus foram
perseguidos na Idade Média, pela própria Igreja de Roma, pelos luteranos e
sofreram o maior dos horrores no holocausto – como já dissemos, 6 milhões de inocentes massacrados. Por outro
lado, o problema palestiniano não é propriamente uma glória do Estado de
Israel.
O Cristianismo com as cruzadas, o Santo
Ofício da Inquisição, uma caçada implacável às “bruxas”, que se chegou a
estender a alguns místicos cristãos, as suas guerras religiosas e um
antissemitismo confesso.
O Islão, onde abundaram as guerras
religiosas, a violação dos direitos humanos, a perseguição às minorias, o
estatuto das mulheres – evitando
mencionar a questão do terrorismo por se estribar em facções sectárias
específicas.
Deixemos esta matéria para um momento
posterior, na certeza porém de que no cristianismo não existe uma unidade do
Antigo com o Novo Testamento. Aliás, na época de Márcio de Sinope (80-155) a
maior parte dos escritos do Novo Testamento já existiam. Márcio é um crítico
racionalista da Bíblia. O Deus do Antigo Testamento não tem real
correspondência com os juízos de omnipotência, omnisciência e de bondade que
lhe atribuem. O cristianismo adensa-se fundamentalmente nos quatro Evangelhos e
nas Epístolas de Paulo – veja-se »
Muito menos teremos resquícios dessa
unidade com o Novíssimo Testamento
ditado ao Profeta Maomé.
***
Quedemo-nos por ora pelo Cristianismo,
debruçando-nos em especial na doutrina expendida pela Igreja Católica, no seu
Catecismo – que se diz “fiel e iluminado
pela Sagrada Escritura, pela Tradição Apostólica e pelo Magistério da Igreja” –
publicado em 1992, como resultado de um trabalho de seis anos impulsionado pelo
papa João Paulo II. Em 2003, o mesmo papa, constituiu uma comissão especial
presidida por Ratzinger, para a elaboração de um Compêndio do Catecismo da
Igreja Católica, com propostas de melhoramento. Nalgumas doutrinas, mais do que
melhoramentos, teremos de falar em revogações expressas, o tal princípio da oportunidade que esconde a
malfadada infalibilidade papal e de uma Igreja em derrocada, minada por vícios
e impregnada pelo Mal que terá
“entrado pelas frestas do templo”.
A palavra religião provém da palavra religare – ligar, enlear o homem a Deus – sendo a ciência que nos ensina o
conhecimento de Deus, dos deveres que nos impõe e dos meios que nos conduzem
até Ele. O seu objecto constitui-se na acção que nos leva a alcançar a sua
posse no seu próprio Reino, ou seja no Paraíso Celeste.
Se por um lado temos uma Teologia
Dogmática, estudo das verdades em que devemos acreditar sem reservas, por
outro, devemos fazer a distinção entre religião natural e religião revelada,
sendo a aceitação de ambas, necessária para atingir a salvação. A primeira
fundamenta-se na razão, enquanto que a segunda se subdivide em pública e
privada e está contida na Sagrada Escritura e na Tradição. A primeira, de
assentimento obrigatório aproveita a todos os fiéis. A segunda apenas a uma
pessoa ou a um grupo de pessoas específicas – lembremos aqui alguns místicos e santos. Numa perspectiva teológica
a revelação pública teve o seu fim com os Apóstolos.
A Sagrada Escritura, também denominada
Bíblia, é a palavra de Deus comunicada sob inspiração do Espírito Santo,
àqueles que foram por Ele escolhidos. À Igreja incumbe a interpretação
autêntica da Palavra de Deus, Igreja que é representada pelos sucessores de
Pedro e seus bispos, contrariamente ao que acontece com o protestantismo onde o
livro-exame permite que cada crente a
interprete independentemente de qualquer autoridade.
A revelação de Deus à humanidade terminou
com Jesus.
Para todos os efeitos os dogmas são uma
verdade revelada por Deus e que a Igreja adoptou no seu magistério e que
iluminam o nosso caminho. Pode dizer-se que alguns dos dogmas são verdadeiros
mistérios, impossíveis de atingir por um entendimento limitado, nomeadamente o
da Santíssima Trindade.
A existência de Deus é a verdade
fundamental da religião, o seu ponto de partida, seja do Judaísmo, do
Cristianismo ou do Islamismo.
O Deus dos cristãos não é corpóreo, é
espírito. Infinitamente perfeito tem em si a razão da sua existência.
Tudo pode e para Ele não há projectos
impossíveis (Job 42, 2). É omnipotente; tudo previu desde a eternidade, e tudo
ocorrerá inelutavelmente segundo a sua vontade, de modo necessário nas
criaturas irracionais e livremente nas racionais.
É Amor e a sua essência é simples, eterna e
infinita. Amou-nos com tal intensidade que nos deu o seu filho único, para que
todo o que nele creia não pereça, mas tenha a vida eterna. Deus não enviou o
seu filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por
Ele (Jo 3, 16-17). É verdadeiramente um Deus de Amor Supremo.
O mundo e todas as criaturas é dele que
recebem a sua existência. O mundo foi por si criado para sua glória (Conc Vat
I). Mundo criado do nada, ordenado e bom, condenando-se aqui o panteísmo – todos os seres se confundem com Deus, por
serem emanação da substância divina.
Deus, sendo nosso Senhor, ter-nos-á criado,
imortais, com intervenção directa na formação do corpo e na gestação da alma,
que apesar de distintos se unem formando um único ser, para o servirmos e
louvarmos – o que nos parece descabido,
já que sendo omnipotente e infinitamente perfeito não deveria ter qualquer
necessidade de adoração por parte de criaturas tão imperfeitas e cruéis como os
homens.
E agora tudo se complica.
Não satisfeito, criou os Anjos, criaturas
incorpóreas, totalmente espirituais, ou seja, espíritos puros, superiores ao
homem, com uma enorme capacidade de inteligência e amor.
E criou-os aos milhares para que o
louvassem em todos os tempos, cumprindo as suas determinações.
Alguns deles, chefiados por Lúcifer
revoltaram-se e foram vencidos numa contenda com os Anjos fiéis a Deus
comandados por S. Miguel Arcanjo, derrota que teve como consequência a sua
condenação ao Inferno. Daí, ter santo Agostinho afirmado que sem Satanás não há
Cristo.
Mas Deus determinou ainda que alguns deles
se incumbissem de proteger os homens: são os Anjos da Guarda.
Os Demónios passaram a partir daí a exercer
uma actividade tentadora procurando arrastar os homens para a perdição. O
assédio, a obsessão e a possessão são alguns dos seus ardis, justificando
nalguns casos a prática do exorcismo. Veja-se quanto aos exorcismos »
E mais se complica ainda numa afronta a
toda a lógica e intuição ponderada.
O pecado original. Segundo a Igreja Deus
criou os nossos primeiros pais num estado de perfeita santidade e de justiça
original.
Mas no pecado dos nossos primeiros pais,
nessa sua opção de desobediência, há como não poderia deixar de haver, uma voz
sedutora, que se opõe a Deus e que por mal
de inveja os fez cair na morte.
Estou a imaginar uns pobres diabos nas
planícies africanas, seminus, expostos às intempéries, temerosos quanto à
voracidade dos elementos, indefesos à maioria dos animais selvagens, com um
pensamento simiesco, sofrendo com todo o tipo de doenças, pecando perante um
Deus compassivo.
Ora, o pecado dos nossos primeiros pais não
terá sido um simples pecado de gula, mas um muito grave pecado de soberba.
Aqueles homens-macacos radicalmente perdidos num sem-entendimento-natural
pretenderam ser iguais a Deus (Gen 3). Senhores cardeais, senhores papas,
conclaves, doutrinações e outras confabulações magistrais tende piedade de nós
porque somos lerdos e não vos compreendemos…
E tal pecado, de um tal Adão, que deveria
viver no cimo de uma árvore quando não trovejava, transmitiu-se a todos os
homens por intermédio da cópula, sempre que daí nascesse um novo e amaldiçoado
ser; um malfadado pecado contraído.
E o novelo emaranha-se sem concerto.
Deus, compassivo e bom, vendo que os
aborígenes tinham querido ocupar o seu lugar, decaindo da sua excelsa condição
original, prometeu-lhes um Redentor, que haveria de alcançar uma vitória sobre
o pecado, trazendo-nos bens em muito superiores aos que o pecado nos retirou.
O seu filho – Deus como toda a gente também quis ter um filho – encarnou e fez-se
homem, tendo nascido de mulher sem pecado. Nasceu das entranhas puríssimas da
Virgem Maria, concebido por obra e graça do Espírito Santo.
A seguir a Maria é José em virtude a maior
das criaturas terrenas.
As minhas dúvidas concepcionais residem nos
irmãos de Jesus, principalmente de Tiago o “Justo”, de que falaremos em momento
posterior – não vou aqui abordar o
problema de Jesus ter sido casado, pois não nos basta um pequeno pedaço de
papel recentemente encontrado para demonstrar seja o que for.
Mas, em verdade, a Igreja dos primeiros
séculos ocultou a acção de Tiago, primeiro bispo de Jerusalém como forma de
manter incontestada a Imaculada.
A Santíssima Trindade, imagem deturpada do
politeísmo. Um exercício de legitimação dogmático de cariz contorcionista, com
contornos irregulares e intencionais – 1=3
e 3=1.
Este mistério – já vimos o que é um “mistério” para a Igreja de Roma –, mistério
central da fé e da vida cristã (Cat 234) consigna que em Deus há três pessoas:
o Pai, o Filho e o Espírito Santo, tendo todas elas a mesma natureza divina,
sendo em consequência um só Deus.
As três pessoas distinguem-se apenas pela
origem, já que o Pai não procede de ninguém, o Filho é gerado pelo Pai, e o
Espírito Santo provém do Pai e do Filho.
Assim a fé cristã, não assume três deuses,
mas um só Deus em três pessoas, que podemos denominar como Trindade
consubstancial.
O Espírito Santo tem a mesma natureza do
Pai e do Filho, merecendo a mesma adoração. Por ele somos iluminados e imersos
na sabedoria divina, fortalecendo-nos o entendimento e a vontade, tornando-nos
seres de coragem e acérrimos defensores da Verdade,
mesmo que façamos perigar a nossa vida. É ao Espírito Santo que devemos
implorar as suas virtudes e dons.
O Filho é Deus e Homem verdadeiro, duas
naturezas cuja união se dá numa única pessoa, que é para todos os efeitos
divina.
Alguns teólogos entendem o dogma da
Trindade como fé no Deus Uno e Pai, através de Cristo, seu filho e enviado e no
Espírito de Deus e no Espírito de Cristo. Uma nova imagem, uma nova ilusão de
“óptica”.
A divindade de Jesus é de extrema
importância para o cristianismo. Sem Cristo não há cristianismo, mas um erro
ainda que desculpável, caso não venha a ser demonstrado o dolo dos
doutrinadores.
A igreja e os seus pensadores mais não
fizeram do que diversificar, construindo e destruindo argumentos como se
questão essencial à sua sobrevivência fosse de somenos importância.
Para uns, Jesus é apenas divino. Só divino
(docetismo). Outros julgam-no humano (ebionitas). Para outros, nem só divino,
nem só humano. A cristologia angélica atesta que não é divino nem humano. O
nestorianismo considera que as suas duas naturezas estão separadas, enquanto
que os que as entendem não separadas, classificam-nas como distintas
(ortodoxos) ou indistintas (monofisistas).
Se Jesus não for divino, divina não é a sua
doutrina (e qual será a sua verdadeira doutrina?), como divina e autêntica não
é a sua igreja. Provar a sua divindade por via dos milagres, das profecias e
pelo testemunho dos Apóstolos é no mínimo inusitado.
A Redenção está intimamente ligada à Paixão
de Cristo. A crucificação de um Deus, um escândalo para os judeus e uma loucura
para os gentios, como Paulo asseverou numa das suas Epístolas, não será
propriamente o sinal de esperança, nem o centro da espiritualidade cristã.
Veremos que tal fenómeno se prende com a Ressurreição.
A redenção consistiu no oferecimento de
Jesus à morte por todos nós pecadores, compensando a dívida conveniente à
justiça divina, o que nos libertou do pecado e do poder do Demónio, Senhor do Mundo. Deste modo, passámos a
granjear de novo a divina graça e o direito perdido de ascensão ao Paraíso.
Cristo pela crucificação desagravou a ofensa, varreu a culpa e perdoou a pena a
que nos sujeitámos. Pelo seu mérito recuperou o homem, fazendo com que de novo
obtivesse a graça e o Céu, resgatando-nos e libertando-nos do poder do
Maligno.
Por ter morrido por nós, venceu a morte e o
Diabo “que tem o poder da morte” (Heb 2, 14).
Que estranho Deus este, que exige a
reparação do pecado ou da ofensa, não se satisfazendo com a mera cessação,
antes exigindo que o seu filho amado nos substitua, submetendo-o aos mais
ignóbeis maus-tratos, pérfidas injúrias, e à temível e abominável crucificação
destinada aos criminosos dos povos ocupados – só em casos muito excepcionais, sempre que pelos seus crimes os
cidadãos romanos perdessem a cidadania poderiam ser condenados a tal execução.
Tendo conhecido a morte como todos os
homens a ela sujeitos, desceu à morada dos mortos ou mansão dos mortos, não para aí permanecer, mas para anunciar a
Boa-Nova aos que ali se encontravam desde os primórdios dos tempos humanos.
Estes, tivessem sido justos ou pecadores estavam privados da visão de Deus,
aguardando o Redentor – será necessário
algum comentário? Julgo que não.
Os iníquos continuaram privados de tal
visão, no “verdadeiro” Inferno, enquanto os justos foram definitivamente
libertados.
A Ressurreição de Jesus foi um fenómeno que
em muito pouco tempo se viu envolto numa lendária névoa e em múltiplas
contradições. Na nossa perspectiva, Jesus não ressuscitou. Daí que:
"Se Cristo não
ressuscitou, então a nossa pregação não tem sentido e também não tem sentido a
nossa fé" (1 Co 15,14).
S. Paulo
Já tratámos desta temática noutra sede para
onde vos remetemos »
Continuemos com a doutrina da Igreja de
Roma.
Jesus ressuscitou ao terceiro dia, no
cumprimento das promessas do Antigo Testamento e subiu aos Céus na Galileia, a
partir de uma edificação fechada (Mc 16, 19), em campo aberto, junto de Betânia
(Lc 24, 51) ou foi arrebatado desaparecendo por detrás de uma nuvem (Actos 1, 9
– da autoria de Lucas, o Evangelista).
Quarenta dias depois da sua ressurreição
subiu ao Céu em corpo e alma, por sua virtude. Aí, está sentado à direita de
Deus Pai (Mc 16, 19 – atente-se que esta
parte final do Evangelho de Marcos é um aditamento posterior ao texto original).
É interessante anotar a doutrina de que
Cristo terá subido ao Céu enquanto Homem, porque enquanto Deus, segunda pessoa
da Trindade, nunca deixou de lá estar.
Donde há-de voltar, em sua glória, para
julgar os vivos e os mortos (Parúsia).
O Juízo Final é parte integrante da fé da
Igreja (Mt 24, 30) e (Mc 13, 26), constando do antigo Credo cristão – Symboli Apostolici, séc. II – e do Credo
actual.
No fim dos tempos – antes do Juízo Final - cada homem haverá de ressuscitar. A alma
juntar-se-á ao corpo que teve na terra para nunca mais se separar dele.
Ressurreição da carne num corpo glorioso. Mas, os pecadores, os que não
demonstraram arrependimento ou pecaram contra o Espírito Santo irão ressuscitar
repletos de ignomínias, em corpos não-gloriosos.
Os condenados, ou seja, todos os que
morrerem em pecado mortal sem arrependimento irão para o Inferno, lugar de
tormentos, de eternos suplícios.
Aqui haverá choro e ranger de dentes,
suplício do fogo. Privação da presença beatífica de Deus, do amor, repouso e
alegria. Todos os males e dores envolverão os condenados.
O Purgatório (teorizado entre 1024 e 1254,
num período em que proliferavam Apocalipses com visitas ao Céu e ao Inferno) é
acima de tudo um lugar de purificação para a santidade das almas de justos que
não expiaram convenientemente os seus pecados. Expiam-nos neste estado
intermédio com graves sofrimentos que lhes preparam a entrada no Céu.
O Céu é o lugar dos justos na eterna
presença beatífica e amorosa de Deus. Recompensa divina para os rectos de
espírito e cumpridores dos preceitos sagrados, que têm acesso à visão directa
de Deus, na posse de todo o Bem.
Aí, viverão os eleitos na presença de
Cristo.
Interessante realçar, que os gozos do Céu
serão proporcionais ao mérito de cada um.
Anotemos que as descrições do Compêndio do
Catecismo quanto ao Inferno e ao Purgatório foram amenizadas e o Limbo
simplesmente excluído – lá anda Deus a
dizer e a desdizer coisas aos infalíveis…
Falemos ainda do Limbo, mencionado no Catecismo
da Igreja de 1992. Lugar das almas dos justos antes da vinda do Messias, onde o
aguardaram pacientemente para poderem penetrar a glória do Céu.
Depois da sua vinda é o lugar das almas das
crianças que morrem sem que sejam baptizadas. Almas privadas na eternidade da
visão de Deus e da beatitude do Céu. Vale-lhes o facto de não sofrerem as penas
de sentido.
O Sumo Pontífice, a quem foi concedido
conciliarmente (Concílio Vaticano I) o primado e o dom da infalibilidade – água benta e presunção cada um toma a que
quer -, tomou em atenção esta singularidade aberrante: se uma criança com 1
ano morresse baptizada ia para o Céu e gozaria da presença amorosa de vosso
Deus, mas se o não fosse, paciência…
Suprimindo este artigo do dito Compêndio,
como suprimidas ou alteradas foram muitas outras pseudo-verdades buscou a
Igreja uma nova face que não tem correspondência com negra-alma.
Vede ainda Eminências:
A Igreja é Católica porque Cristo a
constituiu para todos os povos e tempos – não
terá sido antes Paulo que estabeleceu um Paulinismo universal?
Fora da Igreja não há salvação.
“Quem acreditar e for baptizado será salvo,
mas quem não acreditar será condenado” (Mc 16, 16).
Excepcionam-se os que ignorando sem culpa o
Evangelho de Cristo e a sua Igreja, buscam Deus com sinceridade, esforçando-se
por cumprir as suas determinações (LG 16).
“Uma no cravo outra na ferradura”.
Diga-se que com Cristo os mandamentos da Lei se resumem a dois:
- Amar a Deus sobre todas as coisas e,
- Amar o próximo como a nós mesmos.
Voltaremos a esta temática, sem que nos
pronunciemos de imediato pela sua bondade, mas também por uma evidente improficuidade
historicamente comprovada.
Estranha e complicada religião. O que
deveria primar pela simplicidade é um enredo labiríntico e ilógico.
A doutrina e os próprios livros ditos
Sagrados – Palavra de Deus –
contradizem-se manifestamente.
E tal ocorre no Cristianismo, no Judaísmo,
no Islamismo e em praticamente todas as religiões do mundo, crenças
desesperadas do medo.
***
Em finais do ano de 2005, Jean Ziegler,
relator especial da ONU para o Direito à Alimentação, afirmava que mais de 2
milhões de pessoas morriam em todo o mundo como consequência da fome – um número que excedia o da sida, da malária
e tuberculose juntas.
No ano de 2003 terão morrido especificamente
de fome cerca de 840 milhões de pessoas, com um acréscimo de 11 milhões no ano
seguinte, contrariando o comprometimento constante dos Objectivos do Milénio.
Nesses tempos, ainda tão próximos, poderiam
produzir-se alimentos para 12 mil milhões de pessoas, ou seja, o dobro da então
população mundial.
Hoje, a população mundial ronda os 7 mil e
300 milhões. As mortes por subnutrição, relacionadas com a inexistência de água
potável, por malária e sida atingem mais de um milhar de milhão, enquanto nos
países desenvolvidos as pessoas com peso a mais ultrapassam mil e seiscentos
milhões e os obesos serão cerca de 600 milhões.
Metade da população mundial vive na
pobreza, contentando-se com 1% da riqueza mundial, tendo apenas como meio de
subsistência 2 dólares diários. Mais de mil e 200 milhões vivem na maior das
misérias, enquanto 2% dos homens mais ricos do mundo possuem mais de metade
dessa riqueza global.
A cada 5 segundos morre de fome uma criança
com menos de 10 anos.
Como anota Ziegler, todas as crianças que
morrem de fome morrem assassinadas, e todos nós, quer queiramos ou não
participamos desse crime hediondo, uns por acção e outros por omissão.
***
E por muito que nos custe, vamos encontrar
esse tipo de criminalidade consentida nos países mais carenciados.
Tomemos como exemplo Angola, que viu em
2014 dissecada a actuação do seu Governo, no que toca ao combate à fome e à
subnutrição. Num total de 45 países escrutinados quedou-se pelo 42º lugar – 3 lugares acima da Guiné-Bissau.
Mas a família presidencial e seu “séquito”
ostentam uma fortuna ensanguentada,
num dos países do mundo com mais fome e subnutrição. Atente-se que em Janeiro
de 2013, a filha mais velha do presidente, atingiu o indigno objectivo de se
tornar na primeira bilionária africana – fonte:
Forbes.
Uma fortuna, como muitas outras de
políticos e generais, pútrida e cruenta, que se alastra ao país que é a sua
“lavandaria” - Portugal a lavandaria de
Angola - por mera conveniência económica.
Também noutros Estados – e são muitos –, cujo crescimento
económico não respeita meios para atingir finalidades perversas, como a China e
a Índia onde o ser humano mais não é do que número na produção, enquadrando-se
numa novíssima escravatura, desvirtude sem remissão do século XXI, abunda a
impunidade da mais sórdida criminalidade.
***
A história do mundo foi sempre marcada por
guerras devastadoras e por uma violência generalizada.
Mais guerras do que anos, incontáveis são
os mortos. Militares, homens, mulheres, velhos, crianças, todos serviram de
alimento a ideologias religiosas, à ambição e ao capricho de líderes sem
escrúpulos.
No século passado, só na segunda guerra
mundial (1939-45) terão falecido cerca de 70.000.000 de seres. 25 milhões de
soldados, 42 milhões de civis e 6 milhões de judeus.
O terrorismo
das grandes potências. Da antiga União Soviética no Afeganistão, americano em Hiroshima e Nagasaki.
Da Alemanha nazi. Dos cerca de 9 milhões de
judeus que residiam na Europa antes do holocausto, 2/3 foram mortos nos campos
nazis: 1 milhão de crianças, 2 milhões de mulheres e 3 milhões de homens. Mais
um acto horrendo de terrorismo.
A
guerra é para os guerreiros. Quando um Estado ataca deliberadamente civis
desarmados, dizimando velhos, homens, mulheres e crianças, não podemos falar de
acto de guerra, mas antes de terrorismo, ainda que em sentido lato.
A primeira guerra mundial (1914-18) terá
sido mais benevolente: 10 milhões de mortos. Menos do que os 20 milhões da
gripe espanhola que eclodiu na Europa logo a seguir à dita guerra.
O Vietname (1955-75) com o uso terrível do napalm e dos bombardeamentos constantes
sobre as populações civis.
São milhares de conflitos armados que
espelham a verdadeira natureza do homem. Devastação de povos, mortandade
generalizada de inocentes, velhos, mulheres e crianças, enquanto os líderes
engravatados invocam o santo nome de Deus para as suas miseráveis deliberações
de expansão e domínio, nomeadamente a conquista da Suméria (MMXX a.C.), a
guerra de Tróia (c. 1200 a.C.), Peleponeso (c. 400 a.C.), campanhas de
Alexandre (c. 300 a.C.), invasão muçulmana da Península Ibérica (c. 700 d.C),
da 1ª à 9ª cruzada (c. de 1096 a 1291), dos Cem Anos (séc. XIV e XV), guerras
napoleónicas (1803-1815), do Yom Kipur (1973), ocupação soviética do
Afeganistão (1979-89), guerras da Chechénia (1994-96 e 1999-2000), do Iraque
(2003-11) e tantas outras.
E há a violência gratuita e injustificável
das polícias, das autoridades administrativas, dos magistrados corruptos, dos médicos
negligentes e de muitos outros delinquentes bastas vezes apadrinhados por Estados
infectos.
Quantos milhares de mortos numa história
repleta de atrocidades, tudo como consequência de nauseabundos líderes
religiosos e políticos “ranhosos”, numa violência sem limites.
***
Como viver neste planeta canibalesco é pergunta
que nos assola o espírito com frequência. Qual o sentido da vida? Que regras
devem pautar a nossa existência?
Este é um mundo de nacionalismos,
religiões, facções políticas, clubismo. Cristãos, muçulmanos, judeus, hindus,
budistas, democratas, comunistas, portugueses, chineses, sírios, alemães.
Buscamos um ou mais rótulos, companhia
física e nas ideias por receio da solidão. O homem tem medo de estar só.
Acompanhados, covardemente maltratamos,
assassinamos, participamos no massacre dos inocentes, com a crueldade e
impiedade que só aos humanos reconhecemos, em nome de Deus, de uma qualquer
religião, dos estúpidos nacionalismos e de todos os partidarismos.
Mundo de opulência, ganância, desejo do
oiro e do prestígio, avareza, onde grassa a todos os níveis o compadrio, o
proveito próprio e a corrupção. Mundo dos falsos discursos e promessas vãs
proferidas por bocas infectas como sepulcros escancarados. Mundo sem justiça,
de ladrões, negreiros e corsários. Mundo de criminosos de colarinho branco
aplaudidos por bandos de asnos.
Os senhores do capital e do poder estão
acompanhados por um povo estultificado por uma asinina comunicação social. O
povo acrítico do futebol, dos concursos televisivos, das telenovelas, dos
ídolos borra-botas, gigantes-pés-de-barro. Povo sem carácter, egocêntrico,
completamente alheio à cultura e à sabedoria. Povo que adormece ao som das
mentiras de políticos e sacerdotes, que esbraceja quando acossado nos seus
interesses, mas que com a rapidez que convém, olvida agravos e escândalos
perpetrados a um sem número de desvalidos pelos poderosos, ladrões, e
corruptos, sevandijas da humanidade decrépita, seguindo-os como dócil besta de
carga.
Povo sem vontade própria, que vota nos seus
carrascos e constrói de bom grado o seu cadafalso e o dos seus semelhantes.
Povo de vistas curtas que só consegue enxergar o seu próprio umbigo e é bastas
vezes cúmplice ou executor das atrocidades ordenadas pelos mandantes deste
planeta corroído pelo Mal.
É o povo nos países ditos democráticos que
aclama e elege os ladrões e corruptos. É o povo que não quer enfrentar a
realidade de que a sua miséria advém da corrupção no Estado, que alimenta uma
turba de ladrões
É o povo que alimenta as falsas crenças nas
Igrejas improdutivas e lhes farta os
cofres, santificando o pecado e a malignidade.
É o povo que idolatra homens e mulheres que
mais não são do que esterco.
O Maligno
existe. Ele é a essência da humanidade e a natureza do homem. Encorpou a
maioria dos líderes religiosos, dos governantes, dos políticos, dos magistrados,
dos advogados, dos sacerdotes, das autoridades policiais e administrativas, dos
ricos e dos poderosos.
Se buscardes a mentira, a verdade
manifestar-se-á e com os vossos olhos vereis a adversidade, a promiscuidade, a
gatunagem, a indecência e o mal que impera e quem são os seus causadores.
Comparemos a opulência dos templos com a
miséria dos que à fome morrem.
Indignação, apenas isso…
A opulência dos palácios e dos “banquetes”,
das recepções monárquicas e presidenciais.
Mais indignação…
Quando
olho o mundo, minado de miséria, de ausência de caridade e compaixão, lembro-me
das palavras de S. Jerónimo (345-420): “Vivemos como se fossemos morrer amanhã;
mas construímos como se tivéssemos de viver sempre neste mundo. As nossas paredes
fulgem de ouro, como os nossos tectos e os capitéis das nossas colunas; mas
Cristo morre às nossas portas, nu e faminto na pessoa dos seus pobres.”
Precisamos de aniquilar o mal.
Destruir os “muros” dos templos, a
ostentação das religiões. Dispensar os sacerdotes e outros vendilhões de
falsidades celestes.
Queimar os livros ditos sagrados, com as
suas crenças desesperadas – mas
oportunistas – da ressurreição e da reencarnação.
Derrubar os regimes ditatoriais, destituir
os políticos corruptos, renunciar a crenças e nacionalismos.
Obrigar os ricos, os governantes, os
políticos, à restituição das fortunas conseguidas por meio da ladroagem
instituída e legitimada pela indiferença de um povo disbúlico.
Enfrentar corajosamente a violência
gratuita de todas as autoridades, sejam elas quais forem.
Envergar a “espada” sempre que o escândalo
o justifique.
“O cobarde mata com palavras o bravo pela
espada”.
Deixemos de ser cobardes.
Sejamos nós mais um dos Enviados do Deus dos Pobres.
Estejamos atentos. A humanidade tem défice
de atenção. A realidade actual confina-se às novas tecnologias; não é humana é
virtual. Temos de olhar a realidade de frente, vê-la tal qual ela é.
Atenção constante. Em todas as
circunstâncias, abrindo-nos ao universo até que ele seja a nossa mente e a
nossa mente ele.
Libertemo-nos do apego, seja ele qual for.
Como na expressão, “Se encontrardes o Buda, matai-o”.
O nosso caminho não tem fim nem princípio.
Não tem saída. Temos de ir sempre mais além, na direcção do horizonte, de novos
horizontes, novos aléns, na certeza de que não entraremos no Reino de Deus com as riquezas que a
traça e a ferrugem corroem.
***
REGRA
DE OURO PARA UMA NOVA RELIGIOSIDADE
Nem os políticos nem os religiosos querem
ou podem transformar o mundo. Aliás, as suas palavras são apenas palavras
divorciadas de seus actos. Os papagaios engravatados a quem o povo presta
vassalagem.
A religiosidade é o senso individual da
união com o Todo.
A sociedade só se transformará quando cada
um de nós se transformar.
Sacerdotes viciosos, políticos enganadores
que enriquecem no seio da governação com o dinheiro dos pobres, ricos
gananciosos onde os fins justificam todos os meios.
Para quê tantos rituais, orações,
sacrifícios, penitências, doutrinas que confundem e mergulham o homem numa
selva impenetrável de preceitos? Porquê procurar fora o que está dentro?
Talvez assim se consiga manter uma multidão
de sacerdotes que ao perder o emprego teriam de dormir debaixo da ponte, porque
mais não sabem fazer do que enganar o povo com palavras vãs.
Talvez porque quanto mais incompreensível
for a essência de Deus, maior a
adesão à palavra de meia-dúzia de iluminados
que nem em si mesmos se acreditam.
Talvez porque como “o hábito faz o monge”,
não será aprazível às igrejas ver os seus baús esvaziados das moedas
depositadas, quantas vezes por quem vive no limiar da pobreza, principalmente
quando se habituaram a viver na ostentação com dinheiro alheio.
Viverá alguma igreja com o fruto do seu
suor?
O meu Deus – nem sei se lhe hei-de chamar Deus -, não é o deus forjado e
retocado pelo homem.
Ele é o Todo omnipresente, a Energia do
Cosmos, o Cosmos que não principia nem acaba, que convive com as leis do acaso e que vagueia dentro
destas paredes, em mim, fortalecendo-me na sua paz, nos jardins que me
envolvem, que atravessa as serranias e que se estende até ao infinito.
É o vazio que se instala no vazio da minha
mente. Quando quer, não quando eu quero.
Não é omnipotente, nem omnisciente. Não o
poderia ser. Se o fosse tudo seria diferente e as minhas palavras “palha”. Não
quer ser adorado, nem glorificado por anjos e homens. Não reconhece autoridade
a papas, cardeais, sacerdotes, presidentes e intelectuais. Ele sofreu no Sudão,
em Auschwitz, nas batalhas, com as crianças que morreram ingloriamente por
culpa de todos nós. Ele sofre hoje com os que sofrem. Sofre com os que sofrem e
rejubila com os que se alegram.
Sabe como é difícil amá-lo acima de todas
as coisas e o próximo como a nós mesmos. Sabe como tudo isso é bonito de dizer,
impossível de praticar. Por isso, apenas nos pede o possível.
Questionei-o sobre a existência do Mal no mundo. Resolvi de vez o insolúvel
problema das teodiceias, quando me respondeu:
- Tenho-te a ti!
Tem-vos a vós também
e apenas nos pede, que:
- Não façamos aos
outros o que com justiça não queremos
que a nós nos façam; e
- Façamos pelos
outros o que com justiça gostaríamos
que por nós fosse feito.
Tão
simples.
A santidade é tão simplesmente a
consciência das nossas acções, instante a instante; consciência constante.
Veja-se»
***
Por vezes, nestas longas noites em que Te
tenho por companhia, penso em Tiago “o Justo”, o irmão de Jesus e numa ou outra
passagem da sua Epístola. Piedoso, recto, honrado, e infatigável defensor dos
pobres, prezado em Jerusalém por judeus e venerado por cristãos.
“E agora vós, ó ricos. Chorai em altos
gritos por causa das desgraças que virão sobre vós. As vossas riquezas estão
podres e as vossas vestes comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata
enferrujaram-se e a sua ferrugem servirá de testemunho contra vós e devorará a
vossa carne como o fogo. Entesourastes, afinal, para os vossos últimos dias!
Olhai que o salário que não pagastes aos
trabalhadores que ceifaram os vossos campos está a clamar; e os clamores dos
ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do universo! Tendes vivido na terra,
entregues ao luxo e aos prazeres, cevando assim vossos apetites… para o dia da
matança!”
Só dando voz aos pobres a mente poderá
penetrar o vazio da morte que é a
essência da Vida.
PEQUENOS DEUSES CASEIROS
Chegará o dia, dia que já não verei, em que
não existirão “sentinelas” que os protejam.
Repito-me:
Aos oprimidos, aos injustiçados, aos
famintos, a todos os espoliados e desvalidos, dir-vos-ei com Jesus: Se não tendes uma espada, ide, vendei tudo o
que tendes e comprai uma.
Seja ela em vossas mãos gretadas um gesto,
uma voz, um voto, um grito…
AFONSO DUARTE – GRITO
Bebi peçonha, passei por uma guerra,
conheço os homens…
Não, não me irei suicidar, mas passarei o
resto da minha vida a “gritar” pelos meus pobres.
Todo o resto não vale nada.
É
por ti que eu “grito”!
S. Romão, Abril de
2015